
Perguntas Respondidas:
Espiritismo e outros movimentos religiosos
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- Quais as
principais diferenças entre a Umbanda e a Doutrina Espírita, no
que diz respeito a palestras, utilização de instrumentos musicais,
trajes, rituais, amuletos, imagens, sacrifício de animais, comunicação
com espíritos, desenvolvimento da mediunidade, promessas de cura,
passes, serviço pago e gratuito, etc?
- O que são
cablocos, pretos-velhos, etc, sob a ótica espírita?
- Como são
vistos os seres fantásticos (lendas), na visão espírita?
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Quais as principais
diferenças entre a Umbanda e a Doutrina Espírita, no que diz
respeito a palestras, utilização de instrumentos musicais, trajes,
rituais, amuletos, imagens, sacrifício de animais, comunicação
com espíritos, desenvolvimento da mediunidade, promessas de
cura, passes, serviço pago e gratuito, etc?
- A doutrina de Umbanda foi originalmente
criada pelos índios e depois, com a imigração
negra e, posteriormente, a imposição religiosa
católica, assumiu caráter sincrético, isto
é, agregou em seus princípios crenças africanas,
vindas de várias seitas - das quais várias variações
do Candomblé - e, por impositivo da Igreja Católica,
cultuavam seus orixás com correspondência aos santos
católicos, para não serem reprimidos. Toda a doutrina
de Umbanda passou por várias adaptações
locais e pessoais, por não ser uma doutrina codificada.
A doutrina Espírita foi codificada
na França do século XIX pelo Prof. Rivail, também
conhecido por Allan Kardec, mais especificamente em 1858 com
a primeira edição de O Livro dos Espíritos.
A Doutrina Espírita é uma filosofia científica
de conseqüências religiosas, não sincrética
e codificada, isto é, contém nos livros das Obras
Básicas toda a base doutrinária que lhe é
própria, sendo as demais obras complementares. Obras
básicas da codificação espírita:
O Livro dos Espíritos, O Evangelho Segundo o Espiritismo,
O Livro dos Médiuns, A Gênese, O Céu e o
Inferno.
Só pela origem histórica
e pelas características já é possível
ver uma diferença significativa entre as duas filosofias,
mas entraremos um pouco mais nos seus postulados para verificar
quais são as diferenças doutrinárias mais
marcantes (embora existam muitas).
1) Ritos, talismãs, pontos, vestimentas
especiais e hierarquia sacerdotal
O Espiritismo não adota qualquer
tipo de ritual, não adota talismãs, não
possui qualquer tipo de chamativo aos Espíritos sob a
forma de pontos e também, para nenhuma de suas atividades,
sejam elas quais forem, adota vestimentas especiais.
A Umbanda adota em seus princípios rituais próprios
(giras, festas, etc), talismãs (guias, pembas, etc),
pontos riscados e cantados, hierarquia sacerdotal (babalorixá,
yalorixá, filho de santo, ogã, etc) e vestimentas
especiais (branco ou uniforme da casa em questão).
2) Trabalhos materiais, fluidos materializados
O Espiritismo não adota em suas
práticas qualquer tipo de oferenda ou trabalho material.
Todas as manipulações fluídicas são
feitas pelos Espíritos, com o auxílio de médiuns
passistas quando se faz necessário, utilizando deles
também os fluidos animalizados, sem necessidade de trabalhos
materiais.
A Umbanda adota em suas práticas o uso de oferendas e
trabalhos de ordem material. Além disso, propõe-se
à manipulação de fluidos pesados, materiais,
nas práticas da "magia branca". Tal é,
no mais das vezes, a finalidade das oferendas na Umbanda - a
manipulação desses fluidos.
3) Hierarquia Espiritual
O Espiritismo não adota qualquer
tipo de divisão desse tipo. Apenas mostra que os Espíritos
são distintos por seu nível intelectual e moral,
ou seja, pelo maior ou menor conhecimento das coisas e pela
maior ou menor disposição em fazer o bem. Não
adota distinção entre "Falange X" ou
"Falange Y", simplesmente entre elevação
espiritual que demonstra pertencer por seu linguajar, sua postura
e o conteúdo de sua mensagem. Além disso, os Espíritos
designam-se pelos nomes de suas últimas encarnações
ou os nomes que queiram, sem assumirem "cargo" algum.
O máximo que há é a assinatura das mensagens
como "Um amigo" ou "Um Espírito amigo
da casa", etc.
A Umbanda adota em suas crenças
uma hierarquia dos Espíritos dividida em 7 vibrações,
regidas cada uma por um Orixá, e subdividida cada uma
delas em mais 7. Há uma caracterização
espiritual por "vibração" a que o Espírito
diz pertencer. Além disso, os Espíritos designam-se,
normalmente, por nomes-chave, que são, na realidade "cargos
espirituais", como Pai Joaquim, Vovó Maria Conga,
Exu Pinga-Fogo, Ogum Beira-Mar, entre outros tantos.
4) Mediunidade
O Espiritismo utiliza a mediunidade
segundo uma óptica de educação mediúnica,
baseada principalmente no estudo aprofundado e prévio
de O Livro dos Médiuns. O processo de treinamento mediúnico,
na Casa Espírita, não é empírico,
segue as orientações de Allan Kardec e verifica-se
por aulas mediúnicas onde há uma acomodação
gradativa do médium e este acompanha com estudos relativos
à mediunidade, para se tornar mais consciente do trabalho
que realiza. O Espiritismo trabalha todas as formas de mediunidade,
muito visivelmente a psicografia e a psicofonia. Muito raramente
é utilizada a psicopraxia. Normalmente o Espírito
só fala pelo médium, não há necessidade
que movimente seu corpo físico além da fala. Além
de tudo isso, a prática mediúnica espírita
é sempre fechada a um grupo de pessoas que já
tenham acumulado um mínimo estudo sobre os fenômenos
e, por isso, sejam mais capazes de compreendê-los.
A Umbanda utiliza a mediunidade de maneira
empírica, por assim dizer, na medida em que o "desenvolvimento
mediúnico" fica a cargo dos Espíritos comunicantes
e do próprio médium, seguindo uma "tradição"
da casa. Além disso, utiliza-se quase que em 100% do
tempo da incorporação ou, no dito espírita,
da psicopraxia. Outras formas de mediunidade, como a psicografia,
a mediunidade de transporte, a mediunidade de efeitos físicos,
são bastante pouco utilizadas na Umbanda. Além
de tudo isso, a prática mediúnica é, em
alguns casos, aberta ao público.
5) Semelhanças
Apesar de inúmeras diferenças,
há entre o Espiritismo e a Umbanda pequenas semelhanças,
que, se não de forma profunda, pelo menos de forma geral,
existem:
- Acreditam na sobrevivência do
Espírito
- São reencarnacionistas
- Utilizam em suas práticas a
mediunidade (embora de formas distintas)
- Reconhecem Jesus como o maior dos
Espíritos que já esteve na Terra (Oxalá
é Jesus na Umbanda, e Orixalá ou Oxalá
Maior é Deus, seu Pai) - embora não haja na Umbanda
um estudo sobre o Evangelho
- Visam o trabalho para o bem
- Difundem a prática da caridade
como meio de elevação espiritual
Além de tudo
isso, cabe ainda ressaltar que, embora guardem diferenças
profundas, por seu objetivo comum da difusão do bem e
da paz e pelo uso da mediunidade, algumas vezes Espíritos
ligados à Umbanda auxiliam-nos nas práticas espirituais
na Casa Espírita, sendo recebidos como irmãos
queridos, como todos aqueles que se dedicam ao bem e ao amor.
Os Espíritos que se apresentam
na Umbanda, seja qual for o nome que carreguem, são Espíritos
individuais como nós, tiveram um nome em sua última
encarnação - embora não se apresentem com
ele -, têm dores, sofrimentos e angústias como
todos nós. São Espíritos, portanto, do
nosso mesmo nível médio de evolução.
Cabe, no entanto, que façamos sempre a diferenciação
do seu nível evolutivo. O que queremos dizer com isso?
O que o Espiritismo nos ensina é
que os Espíritos são atraídos pela Lei
de Afinidade. Em um grupo em que se preze pelo bem, pela caridade,
pela gentileza, pelo estudo, pela preocupação
com as pessoas, que ensine aos médiuns a boa conduta
da prece e da correção de atitudes, logicamente
Espíritos bem mais elevados se aproximarão para
o trabalho (mesmo que com os mesmos nomes dos outros) - veja
o livro "Loucura e Obsessão" recomendado abaixo.
Mas, de outro modo, em locais onde isso não haja, os
Espíritos que se apresentarão, sob os mesmos nomes,
serão Espíritos inferiores, brincalhões
e por vezes perversos, quando não somente ignorantes.
Falam com autoridade, mas sua postura moral não lhes
dá essa autoridade. Não são capazes de
seguir um raciocínio lógico, porque seu nível
intelectual não o alcança. São, portanto,
Espíritos inferiores.
Não importa o nome com que um
Espírito se apresente, é importante saber se aquela
individualidade espiritual apresenta elevação
o suficiente pelas suas palavras, suas intenções,
suas orientações, sua sabedoria, mesmo que revestida
de simplicidade, como era Jesus.
-
O que são caboclos,
pretos-velhos, oferendas, etc, sob a ótica espírita?
- Todas essas denominações são parte
de algumas filosofias espiritualistas tais como Umbanda, Candomblé,
Quimbanda, etc, não da filosofia espírita. O Espiritismo nos
diz que os Espíritos só são divididos segundo o seu nível evolutivo
- intelectual e moral - e por isso se distinguem. A cor, a raça,
a profissão, o sexo, a cor do cabelo, o nome, a brancura dos
dentes, a lisura da pele, nada disso faz com que um Espírito
seja diferente do outro na óptica espírita. Por isso o Espiritismo,
embora reconheça, cientificamente, as diferenças e particularidades
raciais em termos de cultura, de lutas coletivas históricas,
etc, mostra-nos que cada Espírito é uma individualidade, assexuada,
sem cor, sem raça, que só se distingue dos outros por sua elevação
espiritual, por nada mais. O Espiritismo respeita profundamente
aqueles que, por qualquer motivo, pensem diferentemente, mas
não assume para si, pelas questões acima, essa diferenciação.
Podemos recomendar um livro excepcional
sobre o assunto. Chama-se "Loucura e Obsessão", do Espírito
Manoel Philomeno de Miranda, psicografia do médium Divaldo Pereira
Franco, editora FEB. Nesse livro achará explicações preciosíssimas
sobre a visão de um Espírito do quilate de Manoel Philomeno
e Dr. Bezerra de Menezes sobre os trabalhos executados numa
casa de caridade afro-brasileira. É belíssimo.
Vemos que nenhum caráter físico
indica qualquer diferenciação no plano espiritual em termos
de evolução. O que quer dizer isso? Há Espíritos de grande evolução
que se mostram como homens, mulheres; loiros, morenos, amarelos,
negros, mulatos, mamelucos, etc.
Há grupamentos espiritualistas que,
por governar neles o alcoolismo, a falta de estudos, a falta
de trabalho no bem, etc, logicamente os Espíritos que se apresentam
serão simpáticos a eles, ou seja, Espíritos inferiores. Se apresentarão
de acordo com suas crenças - Ogum, Iemanjá, Pai Preto, Vovó,
Criança, etc - mas serão Espíritos tão ignorantes quanto o grupo
chamou pela sua falta de disciplina.
Por outro lado - e sobre esses o livro
que indicamos fala - há grupamentos espiritualistas em que as
entidades espirituais, apresentando-se sob os mesmos nomes -
para não lhes chocar a crença ou mesmo por compartilharem dela
- apresentam comunicações úteis, boas e de rara beleza e sabedoria.
Por vezes falam de forma simples, com o linguajar típico, mas
seu conteúdo é puro, voltado ao bem.
Analisemos agora o fator das oferendas
materiais. Da mesma forma temos, em suma, dois grupos de Espíritos
que pedem tais oferendas - porque há grupamentos afro-brasileiros
que não mais trabalham com oferendas materiais. Vamos analisá-los
separadamente, novamente, só que agora de ordem inversa.
Para ilustrar nossas colocações
vamos contar a história de um espírita
que, quando moço, no romper de sua mediunidade, foi levado
a um terreiro de
Umbanda e foi se consultar com um preto-velho: "Quando cheguei
à casa, estava o médium incorporado sentado e uma fila de pessoas
para conversar com a entidade. Essa entidade falava de uma forma
bem típica dos escravos, dava estalos como passes, recomendava
que se acendesse uma vela para fazer uma oração. Quando chegou
a minha vez a voz dela transmutou e me disse: 'Meu amigo, não
preciso falar do jeito que eu falo, fui um homem muito culto,
muito instruído, mas durante o período da escravidão estive
aprendendo o amor, que para mim foi a lição mais preciosa. Seu
lugar, meu amigo, não é aqui. Você precisa procurar uma Casa
Espírita, tem um trabalho a fazer. E quanto à sua pergunta,
não, não é necessário que aquela senhora acenda uma vela. Poderia
ser um pedaço de papel ou nada, mas se eu disse a ela: Ora,
ela não vai orar. Se eu disser: Acende uma vela e ora, ela vai
orar, e a vela será somente um dinheiro gasto por uma boa causa.
Agora, meu filho, vai em paz'. Saí do local sem dizer uma palavra
e graças a essa entidade, que até hoje me visita, pude estar
com vocês hoje."
Essa é uma pequena história verídica
que ilustra o porquê alguns Espíritos
Superiores, trabalhadores de alguns
grupamentos sérios, indicam certos acompanhamentos materiais
para as pessoas - que não estariam preparadas ainda para desvincular-se
mentalmente dos objetos. O que temos visto é que - e isso é
dito no livro indicado - após algum tempo é dito à pessoa que
o que ela faz é desnecessário, recomendada a leitura da obra
de Kardec para desvincular o pensamento já preparado de tais
idéias materiais.
Vamos ao outro lado, que se subdivide
em dois.
No caso de um Espírito que realmente
acredita na oferenda material. Não podemos deixar de citar que
toda matéria tem emanações fluídicas grosseiras que podem ser
utilizados pelos Espíritos. Tais fluidos são completamente captáveis
na natureza de maneira natural automática pelo pensamento dos
Espíritos Superiores que coadunam esse fluidos para se juntarem
a outros em processos de intervenção física, não necessitando
para isso que seja feita qualquer tipo de oferenda. Mas Espíritos
ainda imperfeitos utilizam-se de tais fluidos, porque não sabem
manipular outros, para uma intervenção física na matéria. Logicamente
essa intervenção acontece seguindo a Lei de Deus, que contém
a Lei de Afinidade Fluídica.
Mais uma vez aqui vemos Espíritos bem
e mal intencionados. Os bem intencionados utilizam-se de tais
fluidos - e recomendam tais atitudes - porque realmente sua
compreensão não lhes permite alçar o âmbito do pensamento, mantendo-se
vinculados à esfera física. Utilizam-nos para o bem segundo
o seu entendimento.
Os mal intencionados utilizam os fluidos
para o mal. De tudo isso, o que podemos concluir?
1) Nenhuma evidência física pode caracterizar
a elevação espiritual de um Espírito
2) Um pedido de oferenda material pode
esconder por trás uma série de intenções e uma série de circunstâncias
3) O Espiritismo mostra-nos que tais
manipulações, na óptica do Espírito, são completamente desnecessárias,
mas respeita aqueles que pensem diferentemente.
-
Como são vistos
os seres fantásticos (lendas), na visão espírita?
- O Livro dos Espíritos esclarece que
muitos fatos naturais e seres da Natureza, incluindo os fenômenos
mediúnicos e os Espíritos encarnados apresentando-se em suas
diversas formas, foram interpretados ao longo do tempo sob inúmeras
ópticas, segundo o grau de abstração de cada povo e de cada
cultura. Numa época sem tecnologia e ciência, muitos desses
fatos naturais foram considerados milagres, sobrenaturais e
a superstição descreveu-os das formas mais impressionantes,
exageradas e bizarras possíveis. Desse modo, devemos analisar
as lendas e os mitos não com preconceitos e rejeição, mas tentando
extrair no meio das fantasias, acontecimentos e fenômenos reais,
possíveis e naturais.
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